quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Bajo un cielo: o corpo em movimento


O filme “O céu de Suely” me encantou desde a primeira vez que o vi. Enamorei-me pela forma poética com que o diretor Karim Ainouz traduziu a crueza vivida pela personagem Hermila/ Suely.
O cenário social abordado é muito conhecido no nordeste, ou em qualquer lugar onde impere a pobreza e o determinismo social. A personagem Hermila é uma jovem de 21 anos,que apaixonada, aventura-se a ir a outro estado ( São Paulo) em direção ao viver essa paixão. Desse encontro de hormônios, ebulição e fantasias de `príncipe encantado”, ela engravida e volta a cidade natal com os filhos no braço. Ali, frente à realidade da volta, Hermila maltratada por sua condição social e por sua decepção amorosa, decide rifar-se. Ao fazer isso, ela subverte a ordem local, fazendo-se dona de seu destino. E é aí que se instala a beleza e força da obra cinematográfica. O corpo não é lugar de prazer, mas sim de afirmação pessoal. Ainda que a personagem pareça não se sentir a vontade para executar o que propunha em sua rifa: uma noite no paraíso, ela inaugura uma outra ordem em sua condição de mulher, a de sair do lugar esperado por alguém em sua condição social de pobreza.
O que há de digno em sua atitude é o enfrentamento. Enfrentar-se com o seu destino, ir em direção ao desconhecido sem medo é ir em direção à esperança de uma mudança. Ainda que essa mudança possa vir a ser uma repetição de um modo de ser e viver semelhantes às tantas jovens do Brasil, em que a relação pobreza/ filhos/ prostituição é um caminho; o filme deflagra uma outra ordem: aquela de que apesar de , o destino que traça é um “eu”.

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