sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Contra corrente


Há muitas inquietudes no suicídio. Uma delas é que não sabemos o porquê real do acontecimento e por isso, fantasiamos os porquês. Não sabemos lidar com a morte de todos os tipos, e muito menos, por uma que não entendemos, mas sim interpretamos, buscamos as razões. O certo é que tratar esse tema é por demais penoso, e quando nos deparamos com um filme que aborda esse tema sem medo , temos que reverenciá-lo.
Contra corrente, filme de Peter Callahan, tem como tema principal um homem que quer suicidar-se por não suportar a dor da perda de sua esposa, mas antes de fazê-lo tem como objetivo terminar algo em sua vida: uma travessia de um rio. São muitos quilômetros de uma cidade até Nova York em que ele tem tempo de repensar a sua vida e nós, como espectadores, acompanhamos a sua travessia, tentando imaginariamente fazer com que ele mude de ideia. O que tem de interessante em sua trajetória é que nos coloca frente a muitas questões e uma deles é que respeitar a escolha do outro pode ser um processo doloroso para nós mesmos. Viajamos literalmente contra a corrente. A personagem é a corrente em sua escolha pela morte e nós, imbuídos por nossa vontade de fazer com que o outro permaneça nessa vida, lutamos contra a sua ideia.
Há elementos no filme que são convidativos para uma reflexão sobre a vida. A escolha de um rio que seria o representante da própria vida, a triangulação como substitutos simbólicos dos pais, a passagem do tempo e o desfrute de pequenos prazeres. Na narrativa encontramos todos os elementos que nos apontaria para um filme de superação com final feliz; porém, não é isso o que vemos:, a morte foi anunciada e nós só temos que assisti-la. É triste, é doloroso, é cruel; entretanto, é parecido ao que acontece realmente na cabeça dos suicidas. Quiséramos ser deuses para mudar o que alguém pretende, para dar esperança a quem não tem, para criar um sentido na vida. Apesar da dor, o filme merece ser assistido.