sexta-feira, 6 de maio de 2011

Refletindo sobre curtas

PARANGOLÉ
O que podemos falar de um filme que pretende “aspirar” dos olhos, da boca, das ideias de alguém para criar a sua própria estética? Parangolé é um curta atrevido, que propõe, em um estilo bem “caseiro” de filmagem , homenagear Oiticica “roubando” de sua mostra em um museu, a capa denominada Parangolé. Ao fazer isso, o curta dialoga com o passado, recuperando conceitos sobre as artes. Roubar a roupa significa vivificar o museu, é repensar este espaço com um lugar não dos “mortos”; mas sim, daqueles que instigam e que são ressuscitados com a interferência do outro. Interferir, dialogar, cruzar idéias e experimentos, “estourar” imagens, são algumas propostas deste curta contemporâneo.
O CEGO ESTRANGEIRO
Gênero Experimental
Diretor: Marcius Barbieri
Elenco Luis Orione
O que nos deparamos ao “ver” o Cego estrangeiro é que estamos diante de uma experiência acústica ao invés de visual. Tal qual Sherazade, o Cego nos captura e nos arrasta em sua narrativa. Somos impelidos a entrar no mundo das impressões e sensações e passamos a ver como um cego. Estrangeiros de nós mesmos, à nossa condição daqueles que vêem, percebemos através do curta que a realidade ocupa outros sentidos. Apesar de causar um certo estranhamento, somos facilmente enredados na narrativa. “ Ver” o curta é no mínimo interessante, deixa de ser uma aventura da imagem para ser a dos sentidos.
O PRESENTE ( Curta do Filme: Cada um com o seu cinema)
Tudo o que é desconhecido geralmente causa medo, estranhamento e confusão. É assim que nos sentimos diante do curta “O presente”. Usando a metáfora da borboleta, o cineasta nos coloca algumas questões: como eu vejo aquilo que desconheço? Ao apresentar uma cultura que não está alicerçada no mundo imagético, o curta nos faz pensar na origem do Cinema ( nas situações gravadas do “mundo real”) , na introdução da sonoridade no Cinema e no universo das cores. Discutir como espectador o que foi feito, esbarra na noção de realidade ou na dificuldade de aceder a ela; principalmente quando o presente que nos foi dado pode ser de difícil compreensão.
A HISTÓRIA DA ETERNIDADE
Gênero: Ficção
Direção: Camilo Cavalcante
Que História da eternidade nos apresenta Camilo Cavalcante! Eternas são as relações de poder em que a vida e a morte são consumidas como meros acontecimentos do cotidiano. Eu “mato” se estou no controle, e “ como” para não ser engolido. Imagens fortes são mostradas em que o Cordeiro de Deus rende-se à violência da Coca-cola. Capitalismo, submissão, resignação, dor, perda, movimento são evocados e evidenciados nas cenas antropofágicas da realidade. Tudo é frágil, tudo passa, anuncia Florbela Espanca em um trecho do curto; mas, quanta dor! No fim do curta, a espetacularização da vida se torna evidente e o ciclo recomeça, o eterno retorno: a transubstanciação... a carne é metáfora cinematográfica.
CINEMA ERÓTICO ( do filme: Cada um com seu Cinema)
Cinema erótico é um curta interessante. Com um estilo cômico, ele transgride ao nos fazer pensar na relação entre a obra e a recepção. Vemos um casal chocado com as manifestações “eróticas” de um individuo na platéia, diante de uma cena erótica. Que sexo vende não é novidade, que a sociedade ainda o reprime, não é balela de Reich.; o que se põe em discussão nesse curtíssimo é a contextualização da obra e as possibilidades de interpretação de uma obra aberta. Vê-se que o que se aparenta nem sempre é realidade, assim como o cinema é apenas “representação”.

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