sábado, 2 de abril de 2011

Os amantes crucificados


Tentei desvencilhar-me, mas não consegui. Presa a beleza das imagens, espiava através da janela objetiva da câmera. Tentava entrar, fazer parte da estória, mas algo me impedia e me fazia permanecer no mesmo lugar: contemplar de fora. Essas palavras são depoimentos do que senti ao ver Os amantes crucificados de Mizoguchi.
Não imaginava que um filme de 1954 poderia produzir em mim tal arrebatamento. Não é à toa que muitos cineastas apaixonados como Rivette, Godard, Rommer, ,alçam-no à categoria de gênio. A câmera de Mizoguchi é como um pincel, pinta cenas que só podemos apreciar e indagarmos: como ele conseguiu essa leveza? Como a câmera consegue acompanhar de maneira tão precisa os atores?
Seria impreciso tentar colocar algumas perguntas, já que elas não se esgotam, mas sim, chegam a borbotões quando pensamos no filme. O que vemos é um filme além do seu tempo com discussões que são modernas como o amor, o lugar da mulher, a infidelidade, etc. Em uma estória de amor que se instala a partir de um mal entendido, vemos um cenário repleto de tradições e relações de poder . Deparamo-nos com um Japão medieval em que a mulher fala e se impõe e não somente escuta; um amor além do sacrifício, um grito de libertação.
Além da estória, que é bela, o que o espectador vai poder extasiar-se é com a grandiosidade do pincel-câmera de Mizoguchi. O movimento é preciso, as pinceladas são harmônicas e a viagem de ver o filme é inenarrável.

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