sábado, 12 de março de 2011

Filme Socialismo



O Filme Socialismo de Jean-Luc Godard, desde o seu título, já nos coloca em um campo de inúmeras significações. É incontestável a sua homenagem ao Cinema e ao cinema soviético. Vemos não só cenas incluídas de Dziga Vertov e Einsentein, mas também alusões a objetos que estão presentes em alguns de seus filmes, como por exemplo, o navio. E é nesse objeto, que somos convidados a participar de sua fragmentada narrativa fílmica. Se em Vertov e Eisentein o navio era dos trabalhadores, em Godard, as pessoas já mudaram de classe, são os consumidores do entretenimento. Não tão luxuosos como La Nave Va de Fellini, mas sem dúvida, não menos rico em indagações.
A viagem que Godard nos proporciona é repleta de questionamentos: existenciais, históricos e culturais. O além mar é uma redescoberta do lugar em que estamos em um mundo globalizado. Passeamos pelas conquistas históricas. Cidades como Atenas, Nápoles, Barcelona, Palestina e Odessa são lugares representativos de novas civilizações, de guerras, enfim, de transformações. Godard nos coloca imagens poderosas que nos fazem pensar sobre o nosso processo civilizatório, ao mesmo tempo, contrapõe com outras que nos faz repensar a condição de indivíduo: onde estamos em nossa família? A enorme quantidade de imagens familiares nos coloca em outro lugar, em que Édipo está vivo e o sujeito continua ainda por vir.
Outra viagem desencadeada é sobre o fazer Cinema, onde há um claro questionamento sobre a produção de sentido com uma citação de Roman Jokbson que discute a significação entre o som e palavra. A sequência frenética de imagens que Godard nos apresenta a seguir, parece ser um instante de reflexão sobre o que se tem sentido e o que se produz sentido no Cinema. Pensar o fazer Cinema é falar sobre a origem e da função social que o Cinema pode exercer para denunciar a realidade.
Em síntese, Filme Socialismo é um bom dispositivo para repensar o homem e suas humanidades. Percebemos que a história da Humanidade se reflete no hoje em que a idéia de globalização tenta unificar “culturas” e contrário do que se quer o Capitalismo, vê-se que cada lugar tem o seu próprio jeito, as suas idiossincrasias, a sua cultura. Pensar o socialismo é na verdade, repensar o capitalismo. Enfim, o filme de Godard é para quem quer pensar a vida como ela é e “as Coisas como São”.

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